sexta-feira, 29 de maio de 2009

O Motel

Paula não se aguentou e contou para a Érika:

- Viram teu marido entrando num motel!

Érika abriu a boca e arregalou os olhos. Ficou assim, uma estátua de espanto durante um minuto, um minuto e meio, depois pediu detalhes.

- Quando? Onde? Com quem?

- Ontem... no Discretíssimu's.

- Com quem? Com quem?

- Isso eu não sei.

- Mas como? Era alta? Magra? Loira? Puxava de uma perna?

- Não sei, Érika!

- Miguel me paga! Ah, me paga!

Quando o Miguel chegou em casa a Érika anunciou que iria deixá-lo e contou o por quê.

- Mas que história é essa, Érika? Você sabe quem era a mulher que estava comigo no motel. Era você!

- Pois é, maldita hora em que eu aceitei ir. "Discretíssimu's"! Toda a cidade ficou sabendo. Ainda bem que não me identificaram.

- Pois, então?

- Pois, então, que eu tenho que deixar você. Não vê? É o que todas as minhas amigas esperam que eu faça. Não sou mulher de ser enganada pelo marido e não reagir.

- Mas você não foi enganada. Quem estava comigo era você!

- Mas elas não sabem disso!

- Eu não acredito, Érika! Você vai desmanchar nosso casamento por isso? Por uma convenção?

- Vou!

Mais tarde, quando Érika estava saindo de casa, com as malas, Miguel a interceptou. Estava sombrio:

- Acabo de receber um telefonema... - disse. - Era o Faustinho.

- O que ele queria?

- Fez mil rodeios, mas acabou me contando. Disse que, como meu amigo, tinha que contar.

- O quê?

- Você foi vista saindo do motel Discretíssimu's ontem com um homem.

- O homem era você!

- Eu sei, mas eu não fui identificado.

- Você não disse que era você?

- O quê? Para que os meus amigos pensem que eu vou a motel com a minha própria mulher?

- E então?

- Desculpe, Érika, mas...

- O quê?

- Vou ter que te dar uma surra...

Luiz Fernando Veríssimo

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