O Motel
Paula não se aguentou e contou para a Érika:
- Viram teu marido entrando num motel!
Érika abriu a boca e arregalou os olhos. Ficou assim, uma estátua de espanto durante um minuto, um minuto e meio, depois pediu detalhes.
- Quando? Onde? Com quem?
- Ontem... no Discretíssimu's.
- Com quem? Com quem?
- Isso eu não sei.
- Mas como? Era alta? Magra? Loira? Puxava de uma perna?
- Não sei, Érika!
- Miguel me paga! Ah, me paga!
Quando o Miguel chegou em casa a Érika anunciou que iria deixá-lo e contou o por quê.
- Mas que história é essa, Érika? Você sabe quem era a mulher que estava comigo no motel. Era você!
- Pois é, maldita hora em que eu aceitei ir. "Discretíssimu's"! Toda a cidade ficou sabendo. Ainda bem que não me identificaram.
- Pois, então?
- Pois, então, que eu tenho que deixar você. Não vê? É o que todas as minhas amigas esperam que eu faça. Não sou mulher de ser enganada pelo marido e não reagir.
- Mas você não foi enganada. Quem estava comigo era você!
- Mas elas não sabem disso!
- Eu não acredito, Érika! Você vai desmanchar nosso casamento por isso? Por uma convenção?
- Vou!
Mais tarde, quando Érika estava saindo de casa, com as malas, Miguel a interceptou. Estava sombrio:
- Acabo de receber um telefonema... - disse. - Era o Faustinho.
- O que ele queria?
- Fez mil rodeios, mas acabou me contando. Disse que, como meu amigo, tinha que contar.
- O quê?
- Você foi vista saindo do motel Discretíssimu's ontem com um homem.
- O homem era você!
- Eu sei, mas eu não fui identificado.
- Você não disse que era você?
- O quê? Para que os meus amigos pensem que eu vou a motel com a minha própria mulher?
- E então?
- Desculpe, Érika, mas...
- O quê?
- Vou ter que te dar uma surra...
Luiz Fernando Veríssimo
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